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NOTA 6,0 Longa reedita o sonho de viajar no tempo, mas desta vez o protagonista não quer crescer e sim voltar a ser jovem |
Esta comédia não nega as fontes em que se inspirou e brinca descaradamente com a previsibilidade afinal os temas troca de corpos ou voltar à juventude já se tornaram clássicos do cinema e toda geração tem que ter pelo menos um do gênero para representá-la. O roteiro de Jason Filardi faz um mosaico de situações clichês vividas por personagens estereotipados, mas ao menos faz uma inversão bem-vinda. Enquanto a maior parte dos trabalhos do tipo mostra crianças e adolescentes sonhando em crescer rapidamente, aqui o protagonista quer voltar no tempo para reviver sua juventude e corrigir os erros. É claro que vai chegar a hora em que vai cair sua ficha e perceber que os seus problemas não dependem de corrigir o passado ou o futuro, mas sim viver plenamente o que o presente lhe oferece. Ficar remoendo as decisões do passado e sonhando com um futuro incerto só o atrapalharam, transformando-o em um pai ausente, um marido distante e um homem sem foco a seguir na vida. A história pode ser até um tanto infantilizada, mas consegue fazer o espectador adulto refletir sobre as decisões que toma, pois o que você faz hoje certamente irá refletir positivo ou negativamente no seu futuro. É muito fácil apontar os outros como responsáveis pelos seus próprios erros, o difícil é enxergar onde você mesmo erra. Apesar dessa proveitosa lição de moral, o roteiro não é cansativo e mesmo conseguindo-se antever as situações com folga consegue divertir por outro ligeiro toque de novidade: a atualização do contexto. Se antes uma briga qualquer na escola era alvo de um “telefone sem fio” (será que alguma criança hoje em dia sabe o que é isso?) em que a verdade era facilmente deturpada pelo boca-a-boca, atualmente ela é repassada em questão de segundos e com direito a imagem para comprovar os fatos graças aos celulares e outras bugigangas tecnológicas (na época das filmagens tais firulas ainda não eram populares graças a Deus). Todavia, é nessa modernidade irritante que se encontra boa parte da graça desta comédia. O protagonista só voltou a ter o corpo e as feições de quando era adolescente, mas na realidade seu cérebro continua funcionando como o de um homem de meia-idade, o que lhe gera certas dificuldades em se comunicar com a sua nova galera.
Matthew Perry, famoso por anos dedicados a série de TV “Friends”, há tempos vem batalhando por seu espaço no cinema, mas está difícil e não foi nesta comédia que ele veio para brilhar, embora faça seu papel direitinho. Zac Efron é quem se destaca e não podia ser diferente afinal o filme foi realizado como um veículo de promoção da imagem do astro. Muito marcado pelo seu papel de mocinho romântico e boa praça na cinessérie High School Musical, porém, também não foi neste trabalho que ele encontrou o papel ideal para desmembrar sua imagem do personagem ícone de sua carreira. Logo no início de sua participação, Efron aparece jogando basquete e distribuindo sorrisos e não é difícil ter a sensação de que a qualquer momento ele vai começar a cantarolar e a dançar. Felizmente isso não acontece, quer dizer, uns passinhos de dança ele não resiste. Apesar das semelhanças de perfil entre seus personagens, tal fato não compromete o filme, pois o entusiasmo e o bom timing para comédia do jovem ator acabam contagiando o espectador, o que acaba por jogar para debaixo do tapete certos deslizes de interpretação, principalmente quando ele tem que se apresentar de forma mais séria assim como faria sua versão adulta. Se os protagonistas não são os melhores possíveis, os coadjuvantes conseguem segurar a bola, principalmente Thomas Lennon, cujo personagem tem ótimos diálogos que rendem boas piadas satirizando a cultura pop e tem uma participação ativa na trama, incluindo uma investigação sobre o que teria causado a estranha mudança cronológica de Mike. A direção de Burr Steers, que também dirigiu Efron posteriormente em A Morte e Vida de Charlie, consegue imprimir ao filme um bom ritmo de comédia e uma boa dose de romantismo, mas não traz inovações em termos de comédia ou de conflitos para este tipo de produção, preferindo entregar uma obra bem mastigadinha ao público, incluindo a inserção de figuras estereotipadas para rapidamente serem identificadas e apontadas como do bem, do mal ou o mané da história. 17 Outra Vez com certeza é uma tortura para cinéfilos que adoram procurar pêlo em ovo, mas que não tem ao menos a inteligência de distinguir que esta é uma obra de puro entretenimento e que seus responsáveis certamente não estão nem um pouco interessados em seus comentários rebuscados. Para a plateia comum, uma excelente opção para matar o tempo livre e desde sua concepção já um clássico para ocupar as sessões da tarde na TV.
Comédia - 102 min - 2009
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